quinta-feira, outubro 07, 2010

Exercícios - Literatura - Elementos da Poesia

EXERCÍCIOS - VERSIFICAÇÃO

1) Diferencie o texto literário do texto não literário quanto ao uso da linguagem.

FUNÇÃO
(01) Me deixaram sozinho no meio do circo
(02) Ou era apenas um pátio uma janela uma rua uma esquina
(03) Pequenino mundo sem rumo
(04) Até que descobri que todos os meus gestos
(05) Pendiam cada um das estrelas por longos fios invisíveis
(06) E havia súbitas e lindas aparições como aquela das longas /tranças
(07) E todas imitavam tão bem a vida
(08) Que por um momento se chegava a esquecer a sua cruel /inocência de bonecas
(09) E eu dizia coisas tão lindas
(10) E tristes
(11) Que não sabia como tinham ido parar na minha boca
(12) E o mais triste não era que aquilo fosse apenas um
/jogo cambiante de reflexos
(13) Porque afinal um belo pião dançante
(14) Ou zunindo imóvel
(15) Vive uma vida mais intensa do que a mão ignorada
/que o  arremessou
(16) E eu danço tu danças nós dançamos
(17) Sempre dentro de um círculo implacável de luz
(18)Sem saber quem nos olha atenta ou distraidamente do escuro...

(QUINTANA, Mário. Antologia poética.)

2) No poema de Mário Quintana, a vida é uma encenação num palco ou picadeiro, e o homem um joguete submetido aos caprichos da sorte. Esta idéia é expressa metaforicamente pelo seguinte trecho:
a) “todos os meus gestos / Pendiam (...) das estrelas por longos fios invisíveis ” (v. 4 -5)
b) “por um momento se chegava a esquecer a sua cruel inocência de bonecas ” (v. 8)
c) “Vive uma vida mais intensa do que a mão ignorada que o arremessou ” (v. 15)
d) “E eu danço tu danças nós dançamos ” (v. 16)
e) “Sempre dentro de um círculo implacável de luz” (v.17)

3) Procure explicar a resposta dada na questão anterior.

POÉTICA
1
Que é a poesia?
Uma ilha
Cercada
De palavras
Por todos
Os lados
2.
Que é o Poeta?
Um homem
Que trabalha o poema
Com o suor do seu rosto.
Um homem
Que tem fome
Como qualquer outro
homem

(Cassiano Ricardo)

4) O eu-lírico no texto IV, de Cassiano Ricardo, expressa uma definição sobre a elaboração da poesia. Essa definição é semelhante ao conteúdo do seguinte fragmento:
a) “Como varia o vento – o céu – o dia, / Como estrelas e nuvens e mulheres, / Pela regra geral de todos seres, / Minha lira também seus tons varia, / e sem fazer
esforço ou maravilha.”
b)“O artista intelectual sabe que o trabalho é a fonte da criação e que a uma maior quantidade de trabalho corresponderá uma maior densidade de riquezas.”
c)“[Minhas poesias] não têm unidade de pensamento entre si, porque foram compostasem épocas diversas – debaixo de céu diverso – e sob a influência de impressões momentâneas.”
d)  “Um dia (...) tive saudades da casa paterna e chorei. As lágrimas correram e fiz osprimeiros versos da minha vida, que intitulei – Às Ave-Maria.
e) “Não faças versos sobre acontecimentos/Não há vida nem morte perante a poesia”

5) Dê uma definição de melopéia, de fanopéia e de logopéia.

Texto I
Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-seno azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém:
Cai no álbum de retratos
(Murilo Mendes)

Texto II
Vozes veladas, veludosas vozes
Volúpia de violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos vivas vãs vulcanizadas
(Cruz e Sousa)

Texto III
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.
(Gregório de Matos)

6) No texto I predomina a fanopéia.Explique.
7) O texto II fala de vozes, acompanhadas de violões, lançadas ao vento. Explique como esse conteúdo é imitado pela melopéia dos versos.
8) No texto III predomina a logopéia.Explique.

INSTRUÇÃO: As questões de números  09 a 11 tomam por base a oitava estrofe do Canto VI de Os Lusíadas,de Luís de Camões(1524?-1580), e o poema A Onda, de Manuel Bandeira (1886-1968).

 OS LUSÍADAS, VI, 8

No mais interno fundo das profundas
Cavernas altas, onde o mar se esconde,
Lá donde as ondas saem furibundas,
Quando às iras do vento o mar responde,
Netuno mora e moram as jucundas
Nereidas e outros Deuses do mar, onde
As águas campo deixam às cidades
Que habitam estas úmidas Deidades.

in: CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Lisboa:Imprensa Nacional, 1971. p. 195.

A O N D A
a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda

in: BANDEIRA, Manuel. Estrela da Vida Inteira.
Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1966. p. 286.

Os dois textos apresentados, separados no tempo por quase quatrocentos anos (a primeira edição de Os Lusíadas é de 1572), revelam características formais típicas de suas respectivas épocas, mas não deixam de apresentar traços em comum. Releia-os com atenção e

09) aponte um procedimento rítmico presente na estrofe de Os Lusíadas que é também empregado no poema de Manuel Bandeira
10) aponte o esquema de rimas da estrofe de Camões
11) explique a exploração dos recursos visuais e sonoros no texto II e o efeito de sentido que provoca.
12)Dê uma definição de prosa.
13)Dê uma definição de poema.
14) Dê uma definição de verso.
15) Qual a diferença entre a sílaba gramatical e a sílaba poética?
16) O que é escansão e quais as suas regras?
17)  Quantas sílabas gramáticas e quantas sílabas poéticas há nos versos abaixo:
a)      Pensava no destino, e tinha medo
b)      Que não seja imortal posto que é chama
c)      O meu nome é Severino
18) Dê uma definição de rima.
19) Defina rima consoante e rima toante.
20) Defina rima comum e rima rara.
22) Defina rima rica e rima pobre.
23) Classifique as rimas abaixo em ricas/pobres, consoantes/toantes, comum/raras
a) assinalados/navegados
b) partiste/triste
c) polícia/precisa
d) saber/soberba
e) cantar/amar

24) Aponte o esquema de rima das estrofes abaixo e diga qual é o nome de cada uma delas
a) Às armas e os barões assinalados
Que da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Trapobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana
Entre gente remota edificaram
Novo Reino que tanto sublimaram

b) Alma minha gentil, que te partiste 
tão cedo desta vida descontente, 
repousa lá no Céu eternamente, 
e viva eu cá na terra sempre triste. 

Se lá no assento etéreo, onde subiste, 
memória desta vida se consente, 
não te esqueças daquele amor ardente 
que já nos olhos meus tão puro viste. 

E se vires que pode merecer-te 
alguma cousa a dor que me ficou 
da mágoa, sem remédio, de perder-te, 
  
Roga a Deus, que teus anos encurtou, 
que tão cedo de cá me leve a ver-te, 
quão cedo de meus olhos te levou.

25) O que são versos livres? e versos brancos?
26) Faça a escansão dos versos da estrofe abaixo e classifique os versos quanto à métrica:
a) Senhora partem tão tristes
Meus olhos por vós meu bem
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém

b) Estavas linda Inês posta em sossego
De teus anos colhendo doce fruito
Naquele engano da alma ledo e cego
Que a fortuna não deixa durar muito

c) Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Tocando coisas de amor

d) Sou bravo, sou forte
sou filho do norte
meu canto de morte
guerreiros, ouvi

27)Ademir impõe com seu jogo
O ritmo do chumbo (e o peso)
Da lesma, da câmara lenta,
Do homem dentro do pesadelo.
(João Cabral)

Há rimas no poema acima? Se há, Classifique-as.

28) A partir da maneira como foram utilizadas a métrica e a rima, explique a construção do ritmo no poema abaixo relacionando-o com o sentido.

O sino bate,
O condutor apita o apito
Solta o trem de ferro um grito,
Põe-se logo a caminhar...
- Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende
com vontade de chegar...
Mergulham mocambos
Nos mangues molhados,
Moleques, mulatos,
Vem vê-los passar

Ascânio Ferreira, “Cana Caiana”.

29) Faça a escansão dos versos dos poemas “A tempestade” e “Canção do Tamoio” de Gonçalves Dias e, a partir da maneira como foram utilizadas a métrica e a rima, explique a construção do ritmo, relacionando-o com o sentido.

I
A Tempestade

Um raio
Fulgura
No espaço
Esparso,
De luz;
E trêmulo
E puro
Se aviva,
S’esquiva
Rutila,
Seduz!

Vem a aurora
Pressurosa,
Cor de rosa,
Que se cora
De carmim;
A seus raios
As estrelas,
Que eram belas,
Tem desmaios,
Já por fim.

O sol desponta
Lá no horizonte,
Doirando a fonte,
E o prado e o monte
E o céu e o mar;
E um manto belo
De vivas cores
Adorna as flores,
Que entre verdores
Se vê brilhar.

Um ponto aparece,
Que o dia entristece,
O céu, onde cresce,
De negro a tingir;
Oh! vede a procela
Infrene, mas bela,
No ar s’encapela
Já pronta a rugir!
Não solta a voz canora
No bosque o vate alado,
Que um canto d’inspirado
Tem sempre a cada aurora;
É mudo quanto habita
Da terra n’amplidão.
A coma então luzente
Se agita do arvoredo,
E o vate um canto a medo
Desfere lentamente,
Sentindo opresso o peito
De tanta inspiração.

Fogem do vento que ruge
As nuvens aurinevadas,
Como ovelhas assustadas
Dum fero lobo cerval;
Estilham-se como as velas
Que no alto mar apanha,
Ardendo na usada sanha,
Subitâneo vendaval.

Bem como serpentes que o frio
Em nós emaranha, — salgadas
As ondas s’estanham, pesadas
Batendo no frouxo areal.
Disseras que viras vagando
Nas furnas do céu entreabertas
Que mudas fuzilam, — incertas
Fantasmas do gênio do mal!

E no túrgido ocaso se avista
Entre a cinza que o céu apolvilha,
Um clarão momentâneo que brilha,
Sem das nuvens o seio rasgar;
Logo um raio cintila e mais outro,
Ainda outro veloz, fascinante,
Qual centelha que em rápido instante
Se converte d’incêndios em mar.

Um som longínquo cavernoso e ouco
Rouqueja, e n’amplidão do espaço morre;
Eis outro inda mais perto, inda mais rouco,
Que alpestres cimos mais veloz percorre,
Troveja, estoura, atroa; e dentro em pouco
Do Norte ao Sul, — dum ponto a outro corre:
Devorador incêndio alastra os ares,
Enquanto a noite pesa sobre os mares.

Nos últimos cimos dos montes erguidos
Já silva, já ruge do vento o pegão;
Estorcem-se os leques dos verdes palmares,
Volteiam, rebramam, doudejam nos ares,
Até que lascados baqueiam no chão.

Remexe-se a copa dos troncos altivos,
Transtorna-se, tolda, baqueia também;
E o vento, que as rochas abala no cerro,
Os troncos enlaça nas asas de ferro,
E atira-os raivoso dos montes além.

Da nuvem densa, que no espaço ondeia,
Rasga-se o negro bojo carregado,
E enquanto a luz do raio o sol roxeia,
Onde parece à terra estar colado,
Da chuva, que os sentidos nos enleia,
O forte peso em turbilhão mudado,
Das ruínas completa o grande estrago,
Parecendo mudar a terra em lago.

Inda ronca o trovão retumbante,
Inda o raio fuzila no espaço,
E o corisco num rápido instante
Brilha, fulge, rutila, e fugiu.
Mas se à terra desceu, mirra o tronco,
Cega o triste que iroso ameaça,
E o penedo, que as nuvens devassa,
Como tronco sem viço partiu.

Deixando a palhoça singela,
Humilde labor da pobreza,
Da nossa vaidosa grandeza,
Nivela os fastígios sem dó;
E os templos e as grimpas soberbas,
Palácio ou mesquita preclara,
Que a foice do tempo poupara,
Em breves momentos é pó.

Cresce a chuva, os rios crescem,
Pobres regatos s’empolam,
E nas turvam ondas rolam
Grossos troncos a boiar!
O córrego, qu’inda há pouco
No torrado leito ardia,
É já torrente bravia,
Que da praia arreda o mar.

Mas ai do desditoso,
Que viu crescer a enchente
E desce descuidoso
Ao vale, quando sente
Crescer dum lado e d’outro
O mar da aluvião!
Os troncos arrancados
Sem rumo vão boiantes;
E os tetos arrasados,
Inteiros, flutuantes,
Dão antes crua morte,
Que asilo e proteção!

Porém no ocidente
S’ergue de repente
O arco luzente,
De Deus o farol;
Sucedem-se as cores,
Qu’imitam as flores
Que sembram primores
Dum novo arrebol.

Nas águas pousa;
E a base viva
De luz esquiva,
E a curva altiva
Sublima ao céu;
Inda outro arqueia,
Mais desbotado,
Quase apagado,
Como embotado
De tênue véu.

Tal a chuva
Transparece,
Quando desce
E ainda vê-se
O sol luzir;
Como a virgem,
Que numa hora
Ri-se e cora,
Depois chora
E torna a rir.

A folha
Luzente
Do orvalho
Nitente
A gota
Retrai:
Vacila,
Palpita;
Mais grossa
Hesita,
E treme
E cai.

II
Canção do Tamoio
(Natalícia)

I
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.

II
Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.

III
O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!

IV
Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!

V
E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.

VI
Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
Dimigos transidos
Por vil comoção;
E tremam douvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.

VII
E a mão nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!

VIII
Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.

IX
E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.

X
As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.


In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biográficas por Antônio Soares Amora. Org. rev. e notas por Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 1949. p.522-524

30) INSTRUÇÃO: As questão de número 30 toma por base um fragmento da narrativa O Burrinho Pedrês, do ficcionista brasileiro João Guimarães Rosa (1908-1967).

O Burrinho Pedrês
[...]
Nenhum perigo, por ora, com os dois lados da estrada tapados pelas cercas. Mas o gado gordo, na marcha contraída, se desordena em turbulências.
Ainda não abaixaram as cabeças, e o trote é duro, sob vez de aguilhoadas e gritos.
— Mais depressa, é para esmoer?! — ralha o Major. — Boiada boa!...
Galhudos, gaiolos, estrelos, espácios, combucos, cubetos, lobunos, lompardos, caldeiros, cambraias, chamurros, churriados, corombos, cornetos, bocalvos, borralhos, chumbados, chitados, vareiros, silveiros... E os tocos da testa do mocho macheado, e as armas antigas do boi cornalão...
— P’ra trás, boi-vaca!
— Repele Juca... Viu a brabeza dos olhos? Vai com sangue no cangote...
— Só ruindade e mais ruindade, de em-desde o redemunho da testa até na volta da pá! Este eu não vou perder de olho, que ele é boi espirrador...
Apuram o passo, por entre campinas ricas, onde pastam ou ruminam outros mil e mais bois. Mas os vaqueiros não esmorecem nos eias e cantigas, porque a boiada ainda tem passagens inquietantes: alarga-se e recomprime-se, sem motivo, e mesmo dentro da multidão movediça há giros estranhos, que não os deslocamentos normais do gado em marcha – quando sempre alguns disputam a colocação na vanguarda, outros procuram o centro, e muitos se deixam levar, empurrados, sobrenadando quase, com os mais fracos
rolando para os lados e os mais pesados tardando para trás, no coice da procissão.
— Eh, boi lá!... Eh-ê-ê-eh, boi!... Tou! Tou! Tou...
As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão...
“Um boi preto, um boi pintado,
cada um tem sua cor.
Cada coração um jeito
de mostrar o seu amor.”
Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando... Dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito... Vai, vem, volta, vem na vara, vai não volta, vai varando...
“Todo passarinh’ do mato
tem seu pio diferente.
Cantiga de amor doído
não carece ter rompante...”.
Pouco a pouco, porém, os rostos se desempanam e os homens tomam gesto de repouso nas selas, satisfeitos.
Que de trinta, trezentos ou três mil, só está quase pronta a boiada quando as alimárias se aglutinam em bicho inteiro — centopeia —, mesmo prestes assim para surpresas más.

(João Guimarães Rosa, O burrinho pedrês. In: Sagarana)

(VUNESP) O estilo narrativo de Guimarães Rosa é caracterizado, entre outros aspectos, pelo alto índice de musicalidade, pelo recurso a procedimentos rítmicos e rímicos característicos da poesia, como por exemplo no nono parágrafo, que pode ser lido como uma seqüência de 16 versos de cinco sílabas (As ancas balançam,/e as vagas de dorsos,/das vacas e touros,/ batendo com as caudas,/etc.) ou de 8 versos de onze sílabas ( As ancas balançam, e as vagas de dorsos,/das vacas e touros, batendo com as caudas,/etc.). Depois de observar atentamente este comentário e os exemplos,

a) indique, no trecho de O Burrinho Pedrês, outro parágrafo que possa ser integralmente lido sob a forma de versos regulares;
b) estabeleça, com base em sua leitura, o número de sílabas de cada verso e o número de versos que tal parágrafo contém.

Essa vida por aqui
É coisa familiar
Mas diga-me retirante
Sabes bendito rezar?
Sabe cantar excelências
Defuntos encomendar?
Sabe tirar ladainha
Sabe mortos enterrar?

31) O número de sílabas métricas, ou poéticas, do excerto é o mesmo do seguinte provérbio:
a) a bom entendedor/meia palavra basta
b) Água mole em pedra dura/tanto bate até que fura
c) Quem semeia vento/colhe tempestades
d) Quem dorme com cães/Amanhece com pulgas
e) Cabeça de vadio/hospedaria do diabo

32) Dê uma definição de gênero lírico, de gênero épico, de gênero dramático e de gênero satírico.
33) Classifique os textos abaixo em épico, lírico, dramático ou satírico

a) As armas e os barões assinalados
Que da ocidental praia lusitana
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Trapobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
Entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram
.......................................................
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
(Camões, Os Lusíadas)


b) A cada canto um grande conselheiro,
que nos quer governar cabana, e vinha,
não sabem governar sua cozinha,
e podem governar o mundo inteiro.
(Gregório de Matos)

c) Traziam-na os horrífico algozes
Ante o Rei, já movido a piedade:
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, á morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saüdade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a mogoava,

Pera o céu cristalino elevantando
Com lágrimas, os olhos piedosos,
(Os olhos, porque as mãos lhe estavam atando
Uns dos duros ministros rigorosos)
E depois nos meninos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfindade como mãe temia,
Para o avô cruel assi dizia:
.................................................................
Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar uma donzela
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens á morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.
...............................................................
Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis)lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra uma dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais e cavaleiros?
(Camões, Os Lusíadas)

d) Ó trevas, que enlutais a Natureza,
Longos ciprestes desta selva anosa,
Mochos de voz sinistra e lamentosa,
Que dissolveis dos fados a incerteza;

Manes, surgidos da morada acesa
Onde de horror sem fim Plutão se goza,
Não aterreis esta alma dolorosa,
Que é mais triste que voz minha tristeza.
(Bocage)

e) A GENTE NAS CALÇADAS:
“- Se já está morto. Se não dorme.
Sua cela é escura como um poço.
- Pintada de negro, de alcatrão:
está cego e surdo como morto.
- Não está morto. Terá sonhos.
Não há alcatrão dentro do corpo.
- Na cela de negro alcatrão
há a luz dos ossos em depósito.
- Veio do século das luzes,
 para uma luz de branco de osso.

(João Cabral de Melo Neto, O auto do frade)

34) Defina estilo de época e estilo individual.
35) Relacione as escolas literárias da literatura portuguesa e brasileira na ordem cronológica indicando o período em que ocorreram.

4 comentários: